189ª CIRANDA TEMÁTICA - CAPPAZ
- Lúcia de Fátima Silva
- 26 de mar.
- 17 min de leitura
Atualizado: 6 de abr.

01
ABERTURA
SONETO DA SAUDADE
Hélio Cabral Filho
Saudade é uma janela aberta para a vida
Onde nos debruçamos para apreciar
As paisagens de um tempo (visão resumida),
Que nas telas da alma tentamos pintar.
Muitas brisas revolvem nossa dor vivida;
A chuva na vidraça faz-nos recordar,
Algum sonho desfeito, uma ilusão perdida,
Um momento tristonho, uma perda, um lugar...
Da janela notamos pedaços do tempo,
Bons momentos vividos, lembranças presentes,
As nuvens de alegrias e os ressentimentos.
O tempo vai passando, e a saudade revela,
As visitas perdidas, pessoas ausentes
Que passaram em frente da nossa janela.
PARTICIPANTES DA 189ª CIRANDA – CAPPAZ – RECORDAÇÕES
Antônio Oliveira (Cardoso) (17)
Carlos Reinaldo (18)
Conceição Ferreira (11)
Deomídio Macêdo (05)
Dido Oliveira (16)
Eda Bridi (21)
Hélio Cabral Filho (01) ABERTURA
Hélio Cabral Filho (03)
José Maria de Jesus Raimundo Silva (04/14)
Joyce Lima Krischke (20)
Lúcia Silva (23)
Lourdes Ramos (13)
Marina Martinez (02)
Neneca Barbosa (07)
Rosana Carneiro (06)
Romário (19)
Roseleide Santana de Farias Silva (15)
Sandra Lúcia (10)
Sonetistas CAPPAZes (24) ENCERRAMENTO
Tereza Santos da Silva (22)
Terezinha Teixeira Santos (12)
Valmir Vilmar de Sousa (Veve) (08/09)
02
DE BLOCOS E ALEGORIAS
Marina Martinez
Vou desfilar no Bloco do Eu Sozinha.
Entrarei numa avenida movimentada
e serei abre-ala, estarei na bateria,
serei porta-bandeira, estarei lá na cozinha.
Irei procurar Pierrôs com expressão cansada,
abraçados em algum poste, distantes,
chorando pelo desamor das Colombinas.
Buscarei Arlequins, Bêbados e Equilibristas,
numa poça de água refletidos,
presos com esmaecidas serpentinas,
sacudidas por um despreocupado bonde.
Tentarei recuperar figuras antigas,
quantas puder relembrar,
alimentadas no meu imaginário.
Na quarta-feira de cinzas,
meu bloco e eu, junto com essas memórias,
vamos pendurar fantasias num ancestral armário.
Até o próximo desfile, sabe-se lá quando e onde.
13/02/25
03
TEMPO
Hélio Cabral Filho
Se a neve vir cair em teus cabelos;
Se a ventania vir vergar teu tronco,
E se os anos dobrarem teus joelhos
E te deixarem cabisbaixo e tonto?!
Se já perdeste o gosto por espelhos
Ficando um pouco amargo, um pouco bronco;
Se a tudo queres dar os teus conselhos,
E tenhas para tudo um gesto pronto?!
A ânsia de viver é sempre eterna,
Pouco importa se o tempo, inexorável,
Nos veio deformar a massa externa.
Importa é o nosso sonho inesgotável,
O gosto da lembrança, a forma interna,
A alma confiante, inabalável...
04
RECORDAÇÕES
José Maria de Jesus Raimundo Silva
Saudade!
Quantas saudade!
Do Cervo, Ferros e do Açude do Panízio.
De bicicleta, sozinho ou com amigos,
Descansava à sombra de uma árvore.
Ouvia o som das águas, o cantar dos pássaros. Apreciava o pôr do sol.
O arco íris e a lua majestosa.
Admirava o esplendor da serra e a ponte das Amoras.
As casinhas brancas nos campos traziam paz, silêncio, amor e alegria.
Pescava lambari, bagre, mandi, cascudo e cará bandeira.
Os anos se passaram, mas na memória estão gravados,
Momentos inesquecíveis,
Vividos na minha terra querida,
E eterna Campos Gerais.
Varginha/MG
Campos Gerais localiza-se no Sul de Minas Gerais.
05
RECORDAÇÕES AMARGAS
(Deomídio Macêdo)
O tilintar da bebida alcoólica na taça de cristal, desperta a sede insaciável, do jovem alcoólatra, que logo pela manhã degusta o líquido devastador.
O antigo relógio na parede, trabalhado em madeira, vai testemunhar, minuto a minuto, as cenas que serão construídas dia após dia, no enredo de uma história, que no futuro, levará lágrimas e decepções para uma família orgulhosa de suas tradições.
Os órgãos corporais, como: fígado, rins, coração e outros, começam a pedir socorro, sem ter nenhuma resposta satisfatória.
O relógio de parede, depois de trabalhar anos a fio, num tic-tac permanente, observa triste, a transformação daquele jovem, que se definha lentamente, copo a copo, na bebida que o afoga.
A cirrose hepática, instalada no organismo, é o resultado da repetição constante da ação, em um efeito avassalador.
A morte chega, e o envolve, lentamente, num processo suicida, arrebatando seu espírito infeliz, que agora transita, na penumbra temporária, das zonas umbralinas.
Agora, só existe o antigo relógio de parede, e uma foto do jovem que deixou para a família recordações, amargas.
06
PROSA POÉTICA... E OS PENSAMENTOS ME LEVAM ATÉ LÁ
Rosana
É a doce sinfonia de pássaros ao amanhecer do dia, que me remete a pensamentos distantes.
Foi numa manhã de janeiro, onde o coração palpitava muito e a alegria se exalava por todo meu corpo.
Aquela sinfonia era tudo que eu queria escutar naquela hora.
O cheiro do café penetrava no quarto simples, com aquela janela enorme, colorida de azul jeans, com as paredes brilhantes, cor de girassol.
Era tudo que eu precisava.
Naquele dia, eu poderia levantar e ter certeza que poderia andar descalça naquela terra firme, poderia
sentir o sol quente na minha pele, poderia sentir o aroma das flores naquele lindo jardim colorido
e ainda, poderia sentar no meu balanço e sonhar com todos os meus desejos.
Poderia pegar todos os insetos que aparecesse e guarda-los, como o maior tesouro da minha vida, dentro daquela caixinha prateada que eu achei nos perdidos da minha tia.
A casa era grande, tudo era extremo: os quartos, a fartura, o carinho.
A torneira aberta para encher os tanques enormes onde eram lavados os lençóis branquinhos, que por vezes ficavam mergulhados numa água azul da cor daquele céu, onde a espuma que os limpava, voava de vez em quando, enquanto eu brincava com elas.
Aquela manhã era magnífica.
Naqueles dias, eu matava a saudade da liberdade, matava a saudade da felicidade.
Era um momento tão sublime, tão acolhedor, que eu não queria mais viver de outra forma.
Queria estar ali, naquele lugar para sempre.
Foi numa dessas vivências, que eu me ajoelhei no meio do quintal, com aquela terra roxa, empoeirada e quente, e pedi ao Papai do Céu que não me deixasse sair dali.
Me lembro que estava com vestido branco fininho, descalça, com as lágrimas no rosto, se misturando com aquela poeira e eu chorei muito e pedi que não deixasse eu sair dali. Ali estava meu chão, ali estava minha vida, ali estava a minha felicidade e eu não queria ir embora.
As lágrimas desciam como cachoeira, misturando os sentimentos dentro do meu peito e a dor daquele momento me fez colocar as mãozinhas no peito e dizer bem alto a quem quisesse ouvir: está doendo! O peito doía, encharcado de tristeza e dor, e sem um mínimo de esperança, fui arrastada para dentro do carro que me levou de volta para a cidade grande, onde eu ficaria trancafiada, sem ouvir o barulho dos meus pássaros, sem sentir a felicidade de brincar com meus insetos, sem sentir o frescor da minha terra entrando pelos poros do meu corpo.
Uma criança, um casarão e uma família.
Coisas magníficas que só quem viveu, sabe o quanto foi bom.
São lembranças de um mundo criado para mim, onde a felicidade de ter vivido cada minuto daqueles momentos, me levou para um passado sem volta.
Memórias da minha infância em Ribeirão Preto, na casa da minha avó Luzia.
Suspirando de saudade!
07
RECORDAÇÕES DA INFÂNCIA
Neneca Barbosa
Olhando da varanda a chuva cair
Veio uma saudade dos tempos idos,
Emoções fortes consegui sentir
Recordando os momentos vividos.
Viajei no mundo mágico da infância,
Ainda, a descobrir no amanhã̃ a vida,
Mas o tempo parece não ter relevância
Pela beleza da meninice, fui assistida.
Vivi meus anos felizes de criança,
respirando o ar puro dos campos...
Tudo passa em minha lembrança!
na noite, observava os pirilampos.
Nas manhãs alegres e risonhas
acordava com os pássaros cantando...
Na inocência, era como um sonho,
viver naquele belo e mágico recanto.
Os anos passaram e aqui estou
continuando o meu aprendizado...
A alegria da guria me acompanhou,
na memória aquele tempo sagrado!
João Pessoa, PB
08
MEU BAIRRO, LEMBRANÇAS DE INFÂNCIA
Valmir Vilmar de Sousa (Vevê)
Meu bairro tinha rua sem asfalto onde se brincava todo dia
Sem preocupar-se com o movimento dos carros
Minha casa não tinha luz elétrica, somente pomboca a querosene
Meu bairro tinha pasto onde se caçava passarinho, roubava pitanga e goiaba
Minha casa tinha grama, pé́ de bananeira, laranja e cana de açúcar
Meu bairro tinha um armazém, uma barbearia e uma serraria
Minha casa tinha poço d’água onde se bebia água fresquinha, purinha
Meu bairro tinha o seu Vizinho, seu Delegado, seu Antônio, o marceneiro
Tinha o padre Fernando, nosso vigário confessor
Minha casa tinha fogão à lenha, tinha patente, janela sem batente
Meu bairro tinha o Flamenguinho, o Balduíno, o Juventus e o Mosca
Na minha casa o som da cigarra era mais estridente, competente
No meu bairro tinha o Beto sapateiro, o Clube Doze de Setembro
Na minha casa tinha visita da bandeira do Divino e do Terno de Reis
No meu bairro tinha a farmácia do Valdir, o açougue do Pedrinho
Minha casa não tinha varanda, porta só com tramela
Meu bairro tinha a Sultec, uma casa mal-assombrada
Minha casa era pequena com cerca de madeira
Meu bairro tinha o posto 1 Ipiranga do seu João
Minha casa tinha flores, meu cantinho de brincar
Meu bairro tinha o Boi de Mamão do seu Dico
A minha casa onde eu nasci, onde eu vivi não existe mais
No meu bairro não existe mais o Cine São Luiz, o bar do seu Joca
Mas ainda existe a Escola Básica Edith Gama Ramos
Lá eu aprendi o bê-á-bá, cursei o primário e o ginásio
Com direito ao quinto ano, pois no exame de admissão fui reprovado
Quem é daquele tempo entende o que estou a relatar
Para minha tristeza no ano seguinte o quinto ano fora abolido
Ah! Meu bairro Capoeiras, hoje isento da poeira de outrora.
Permanece na minha memória, a minha infância e mocidade nele vivida.
Meus primeiros passos, meus primeiros amores.
Minhas primeiras conquistas, minhas primeiras desilusões.
Capoeiras, te trago no meu coração
Membro da CAPPAZ
São José - SC
09
CICATRIZES
Valmir Vilmar de Sousa (Vevê)
Marcas que ficam na gente, na mente,
na semente que germina, contamina.
Ensina a viver em plenitude, com atitude
de querer amar, sorrir.
Contemplar a natureza,
com seus rios, mares, cachoeiras,
que descem no abismo, com endereço.
Amedronta a criança carente,
ausente de seus pais esquecidos,
na curva do rio que transborda na grama.
Da vila esquecida de suas histórias,
suas estórias, suas senhoras que outrora,
amavam, educavam, amamentavam,
dialogavam com suas dores,
seus amores, suas feridas e se curavam.
Membro da CAPPAZ
São José - SC
10
LEMBRANÇAS
Sandra Lúcia
Queria esquecer-te, mas não consigo,
Pois, teus carinhos estão guardados
em meu coração, teu cheiro ainda embriaga
meus poros com o néctar do jasmim…
Queria arrancar-te de meus sonhos
e perder-te na primeira esquina sombria
da madrugada. Mas não consigo;
mesmo compondo meus pesadelos.
Ao clarear de cada dia, sinto o teu encanto
a embalar-me feito ondas vazias.
Mas perco-me, naufragando em espumas vãs,
no vai e vem das marolas…
O vento sopra tão forte e perene
que esqueço, a todo momento,
que acordei em uma ilha
onde cabe a minha solidão.
Queria que nas vagas nuvens
Fostes arrebatado e flutuasses,
retornando em gotas de chuva
Que se misturam ao oceano.
E novamente arrebatado com o calor do sol
retornasses ao anoitecer,
quando o suor transpassa o meu corpo
e naufraga em meu leito.
Novamente percorro à deriva
das lembranças
e adormeço…
Vila Velha/ES
(Tecendo a Madrugada/Artpoesia 2023
11
RECORDAÇÕES.
Conceição Ferreira
Lembrando meu tempo de criança,
Os banhos na FONTE da PASSAGEM,
aos fins de tarde.
PRAZEROSA lembrança,
quando não ficou ausente a malandragem
dos moleques plenos de arte,
Escondidos por trás do SAMAMBAZAL,
a deleitarem-se com o banho das meninas.
Sob folhas de bananeiras sobre o matagal, na horizontal
ESPIONAVAM nosso banho naquelas águas cristalinas
Vindo à tona tal molequeira,
FIM do banho nos finais de tarde!
Doravante, banhos na GAMELA!!!
Destarte, sofri ao buscar água na fonte para o banho,
Um Despropósito à parte.
Isso levava-me às lagrimas debruçada na janela,
Olhos espichados na estrada
mensurando seu tamanho.
RECORDO-me ainda: no trapiche
catando toco de piaçava,
Tristonha almoçando farinha com banana!!!
Na ausência de bolo
A enganar o estômago tolo,
Deliciosa banana
Que a todos engana.
12
LEMBRANÇAS E SAUDADES
Terezinha Teixeira Santos
Guanambi, minha terra,
Terra da minha infância,
Onde nasceram meus sonhos,
Sonhos de eterna fragrância.
Lembro-me de você ainda pequena,
Quando eu também era criança;
Nas suas ruas de areias soltas,
Eu construía castelos de esperanças.
Tomava banho na Lagoa de Beija-Flor,
Destruía ninho de passarinho;
Era mãe de boneca de pano,
Jogava pedras no quintal do vizinho.
No Natal visitava lindos presépios,
No Ano Novo, ganhava presentes de “meus anos”;
Conheci muitos “doidos” daquela época,
Era amiga dos palhaços e ciganos.
Quando encerrava o ano letivo,
Era aprovada com louvor e distinção;
Subia no Morro do Santo Cruzeiro,
Para pagar graças com oração.
Com ramos de flores coloridas
E um laço de fita de cetim,
Como era bonita a capa!
Da prova final e do boletim.
Passava a minha adolescência
E nem sequer eu percebia;
O tempo corria depressa
E eu com ele competia.
Você cresceu, minha cidade,
Ficou adulta, esbelta e graciosa;
Logo conquistou o progresso,
Com uma prole numerosa.
Eu também cresci, na escala biológica,
Menina, moça e mulher;
Conheci a alegria de ser esposa, mãe e avó,
Com amor, carinho e muita fé.
Sempre seremos boas amigas,
No seu seio tenho uma feliz sorte;
É meu desejo ficarmos juntas,
Até mesmo, depois da minha morte.
13
REMINISCÊNCIAS
(Lourdes Ramos)
Seria uma fantasia sem igual
E dela não gostaria de acordar
Percebo que não seria original
Porém é o que me faria viajar
Sair de mim, partir e navegar
Poder encontrar a felicidade
Provar o que me fizesse levitar
Sorrir e administrar a saudade
Ao incidir um novo sol a cada dia
E revivendo uma antiga sensação
Iria de braços dados com a alegria
Vivenciando um momento fugaz
E trazendo-o de volta ao coração
Eu conquistaria a plenitude e a paz!
14
MIL NOVECENTOS E SETENTA E QUATRO N.° 1.974
José Maria de Jesus Raimundo Silva
Vinte e cinco de fevereiro.
Alegria contagiante,
Marchinhas saudáveis e saudosas.
Salões enfeitados.
Pessoas brincando, sambando, sorrindo.
Beijos e abraços.
Assim estava o Clube de Varginha.
Em meio a este ambiente,
Conheci Maria José.
Nascia ali um amor de carnaval.
Forte e inabalável,
Há cinquenta e um anos,
E juntos estamos vivendo,
E amando intensamente.
25/02/2025
15
RECORDAÇÕES – 189 Ciranda Temática CAPPAZ
UM AMOR SEM MEDIDAS
Roseleide Santana de Farias Silva
Assim você foi em nossa vida, querido Pai!
Benção celeste a mim e os meus 05 irmãos.
Nos deste todo teu amor, e na tua limitação,
Mesmo com o teu sofrer humano nesta vida,
Foste carinho, aconchego, sonhos, proteção.
Que o Céu nos abençoe, proteja as crianças,
As quais na vida não tiveram o amor de pai.
Porque isso é dor, é desamparo, e na aflição
Correm riscos de se perderem nos caminhos
Durante percursos de suas vidas e expiação.
Bons pais são honra, colunas mestras do lar,
Aqui eles recebem toda nossa homenagem.
Deus abençoe às mães que na vida sofrem
As faltas do homem em suas funções de pai
Para criar, amar, proteger, seus pequeninos.
Um lar completo e abençoado, como eu tive,
Importa situação financeira ou falta de luxo?
Um lar rico de segurança, afeto e comunhão,
Imagens nos acompanharão durante a vida:
Laços de amor, o reconhecimento e gratidão.
Cabedelo-PB.
16
A VOLTA DO PEZINHO - RECORDAÇÕES – 189 Ciranda Temática CAPPAZ
(Dido Oliveira)
Lembranças boas
Lembranças ruins
Não são à toa assim
Quilômetros, quilômetros, milhas e milhas, anos e anos...
Amigos, escola, família, ainda estão aqui, mesmo os que já se foram, passaram para outro estágio.
O pássaro voltou, cantou feliz de novo, nostálgico, para seu “povo” alegrar - eu, feliz e incrédulo, quanta alegria as recordações do meu passarinho, meu “Pezinho”, desse inverno em Coaraci.
É logo ali, logo aqui na minha, na sua mente.
Surgem simplesmente, asas gigantes, ágeis
Para voar além do que a imaginação convém, consente
Não espera tempo bom, sol, chuva, inverno, verão... simplesmente, vêm e vão
É uma enxurrada de vibrações materializadas nas estradas que levam às recordações.
São como canções ao compositor atento, a sorte ou dor. Eu só́ sei e vou - não sei como voltar, mas volto, e elas estão sempre lá́, braços cruzados preparadas para a ação, infindáveis, e, começar tudo de novo e de novo, num loop sem fim. Aí de mim, aí de ti, se elas se forem para sempre - é o fim.
17
A CASA EM ITAPEIPU
Cardoso 2/2025
A casa onde nasci
Era tudo ao natural
Brincadeiras de pegar
Borboletas no quintal
Água vinha do pote
A luz do candeeiro
O fogão era de lenha
As portas do coração
O banho era de chuva
Tinha máquina de costura
Galopava de alegria
No meu cavalo de pau
As noites eram breus
Sem estrelas e luar
Claridade só́ havia
Depois de o galo cantar
No tempo da invernada
Meu pai e meus irmãos
Sentavam na cozinha
Ao redor do fogão
Mamãe lavava a roupa
Passava ferro e cozinhava
Na hora de dormir
A obrigação era dobrada
O rancho todo enfeitado
Nas noites de São João
Papai debulhava o milho
Dando a cada filho uma mão
18
RECORDAÇÕES
Carlos Reinaldo de Souza
Ao recordar os bons momentos do passado,
muitas lembranças vem à tona, com brandura.
Cada momento é um novo despertar, sonhado,
a reviver os dias plenos de candura.
A vida sempre segue o ritmo de um fado,
a ensinar lições de bem querer, doçura.
No entanto, nem sempre tudo isto é encontrado,
e tudo acaba na tristeza, na loucura.
Revendo, então, os passos já delineados,
a mente encontra a paz, a luz e o seu sustento,
que estavam em minha triste alma acorrentados.
Assim, erguendo os olhos, vejo em minha vida,
Jesus, o Mestre, que ilumina e traz alento.
Feliz eu sou, pois, meu tesouro és tu, querida!
Lafayette – MG
19
SAUDADE
Romário Filho
Não vejo mais...
Crianças na rua brincando;
A família em volta da mesa almoçando;
Casais de namorados na praça;
Pássaros voando a cantar;
O namorado não rouba mais uma rosa no jardim, para ofertar a namorada;
As crianças não pedem mais a bênção aos mais velhos,
Sinto falta das brincadeiras de outrora, e das coisas que eu vivi e hoje, já́ não vejo mais;
As crianças não obedecem aos pais;
Eu era feliz e não sabia.
Que saudade!
19/08/2024
14:28:38
20
RECORDAÇÕES DO CARNAVAL DA VIDA
Joyce Lima Krischke
Ressurjo no carnaval da vida.
Máscara veneziana pronta... vestida
No carnaval uso a máscara alegria.
Há quanto tempo não a via!
Nada irá meu brilho apagar,
Mesmo sem amor... sem amar.
Joguei fora os desencantos.
Já findaram os meus prantos.
Passado sepultei no canal,
Sob a ponte dos suspiros... afina!
Carnaval da vida...
Canto na gôndola colorida.
Com veludo vermelho adornada.
Sou Fênix... uso máscara dourada!
BALNEÁRIO CAMBORIÚ/SC
21
RECORDAÇÕES DA MINHA INFÂNCIA
Eda Bridi
Recordar-me da infância
É reviver momentos felizes
É voltar a ser criança
É viver a criança que existe dentro de mim.
Recordar-me da infância
É lembrar do aconchego do lar
O ambiente de harmonia e desvelo
Os ensinamentos de papai e mamãe
Para viver os verdadeiros valores:
O amor, a fé, a prática do bem.
Volto à infância
Para na imaginação estar na sala de aula
E sentir a emoção de aprender a ler e escrever,
Soletrando: u-va, o-vo, I-vo, E-va
Da cartilha “Queres Ler”
E na capa do caderno
Escrever com lápis de cor o meu nome:
Eda
Volto à infância
Para, por momentos, sentir-me a menina
Magra, tagarela, “veloz”
Que subia nas árvores
Para disputar com os irmãos
Quem alcançaria maior altura
E colher pitangas, cerejas e amoras.
Ou correr pelos campos
Sentir o cheiro da relva e das flores silvestres
De tantas espécies e cores.
Volto à infância
Para brincar de “esconde-esconde”
Em meio às pilhas de tábuas
E rolar nas “montanhas” de serragem
Da marcenaria de papai
Atravessar a estrada
E “tirar” o pó da madeira
E nadar nas águas límpidas
(Hoje poluídas)
Do Arroio Carijinho
Volto à infância
Para dar gargalhadas
Das trapalhadas “do Gordo e o Magro”
Nas matinés aos domingos
No Cine Guarani
Que hoje, “pena”! Já não existe.
Volto à infância
Para juntar minhas mãozinhas
À noite, antes de dormir,
E rezar para o Anjo da Guarda
Me proteger e abençoar.
Tantas lembranças
Tantas marcas
Na memória, na alma, no coração
De um tempo que não volta no calendário
Mas existe na essência de meu ser
E definem meu modo de ser.
A gente cresce
Mas não perde o jeito de ser criança
Aquela criança interior
Talvez altiva, talvez meiga
Que sempre se fará presente
Ao longo da vida
Repleta de felicidade.
Sobradinho- RS
Fevereiro/2025
22
NOSTALGIAS DE MENINA
Tereza Santos da Silva
Se recordar é viver, busco em meu imaginário,
Inúmeras cenas dos meus inocentes cotidianos:
Era menina travessa, que caçava passarinhos,
Capturava rolinhas, jaós, sabiás e o amarelinho canário!
Depois fazia fritadas e comíamos entre primos e manos!
Dos meus oito aos doze anos, ignorava a proteção,
Nem achava um pecado, até o Padre o fazia!
Não síamos respeitar as obras da criação!
Pescava no ribeirão pra brincar de cozidinho...
Aprendi cedo com meu pai a manejar bateira,
Remava sonhando acordada que ia até o mar,
E pescava ali mesmo, do jeito simples e certinho,
Peixinhos miúdos e grandes com uma simples peneira,
Ou com um covo ou um balaio, de caniço e samburá.
E trazia muitos peixes para minha mãe então limpar,
Depois comíamos com pirão, como se fosse brincadeira!
Em meio as traquinagens, depois do anoitecer,
Caçava muitos pirilampos pra encher uma garrafinha,
Enquanto os vagalumes piscavam, coitados! sem entender,
Eu fingia que era lanterna a iluminar a cozinha...
Muitas vezes ia à Igreja, rezar o Santo Anjo do Senhor!
Pedindo proteção pra meus pais, irmãos e para eu logo crescer...
Corria atrás dos porquinhos e perseguia as galinhas,
Voltava esbaforida. trazendo ovos ainda quentinhos,
Comia fritada deles, sempre com um pirãozinho!
Tirava leite da cabra, da porca, da gata e porquinha!
Dessa época de sonhos, mais de se sete décadas vão...
Queria voltar à minha infância, tornar a brincar no terreiro!
Subir nas altas goiabeiras e apanhar frutos madurinhos,
Colher inúmeras tangerinas que tinham outro sabor...
Reaprender com meus queridos e inseparáveis primos,
Como fazer pandorga, arapuca, estilingue e alçapão.
Ajudar na farinhada no sítio do meu saudoso avô!
E a par de tudo isso, viver intensamente o amor!
23
LEMBRANÇAS
Lúcia Silva
Passeiam por minha mente lembranças
Ao ver essa face serena, esse olhar amoroso
Que nos contemplava
Como se fôssemos eternas crianças
Ah! Quantas recordações dos momentos vividos
Desse sorriso sincero e afetuoso
Dos conselhos recebidos
Do seu colo acolhedor
E a cadeira ao pé da janela?
Vejo-a suavemente a balançar
Como se você estivesse nela
Embalando nossa saudade.
Mesmo no seio da eternidade, pai querido
Sinta o pulsar do nosso amor
Saiba que jamais será esquecido
Pois estás perpetuado em nossos corações.
24
ENCERRAMENTO
RECORDAR É VIVER
EXERCÍCIO CONJUNTO DOS SONETISTAS CAPPAZes
O recordar é dar ao viver, voz; (Neneca Barbosa)
passa o tempo ligeiro e sem censura, (Salomé́ Pires)
passa a vida tão breve e tão veloz; (Hélio Cabral)
do passado fazer nova leitura. (Neneca Barbosa)
Lembrar nos traz a dor, talvez atroz (Carlos Reinaldo)
e reviver alguma desventura, (Hélio Cabral)
faz do tempo um amigo ou seu algoz... (Salomé́ Pires)
Vale lembrar os dias de ventura. (Neneca Barbosa)
Escrevemos, assim, a nossa história, (Hélio Cabral)
ao narrar as lembranças já vividas, (Neneca Barbosa)
em nosso coração e na memória. (Hélio Cabral)
Indeléveis momentos nos habitam, (Salomé́ Pires)
trazendo paz, curando almas sofridas, (Carlos Reinaldo)
novas lembranças, sempre, nos visitam. (Neneca Barbosa)
189ª CIRANDA CAPPAZ – PARTE LIVRE
01 ABERTURA
LIVRO DA VIDA
Neneca Barbosa
O grande livro da minha história
É como um palco que abre sua cortina,
Para as cenas de fracasso ou vitória
Transformando-se numa boa oficina.
Nele, as experiências vou escrevendo,
Usando o tempo que tem sua missão;
De cuidar das ações que vou tecendo,
Servindo pra minha libertação.
Vou desabrochando como uma flor,
Que encanta os olhos do jardineiro...
Compondo os meus versos com amor,
Sentirei na alma seu abraço fagueiro.
Cultivarei com vontade a esperança,
De caminhar em direção da luz,
Encontrando paz em cada mudança,
No espirito eterno que me conduz.
Assim, vou escrevendo o livro da Vida,
Procurando alegrar meu coração,
Com as cores suaves da margarida,
Onde os sonhos como pétalas voarão.
João Pessoa, PB
19/02/2025
PARTICIPANTES
Hélio Cabral Filho (02)
Joyce Lima Krischke (03)
Lúcia Silva (04)
Neneca Barbosa (01) ABERTURA
02
Revides e perdões
Hélio Cabral Filho
O ódio se desfaz num bom sorriso,
Sincero, humano, natural, modesto...
Pra toda exaltação só é preciso,
Um complacente e carinhoso gesto.
Pra todo aquele parcial juízo,
Que vem de um coração tão desonesto,
É ter um sentimento decisivo,
Num justo e virtuoso manifesto.
Viver é se sentir sempre disposto,
Mesmo que venham te afligir, aos molhos,
Qualquer desilusão, qualquer desgosto.
É ter, pra superar tantos escolhos,
A bondade fraterna do teu rosto,
A virtude suprema nos teus olhos.
03
CARNAVAL E ALEGRIA
Joyce Lima Krischke
Retorna Carnaval com Alegria!
É sentimento que contagia,
Que apascenta nosso coração.
Ambos podem tornar-se paixão!
Alegria e Carnaval com fantasia
Belos momentos no dia-a-dia!
Alegria doce mistério da vida...
Carnaval com máscara colorida!
Sabes o que significa Alegria?
Carnaval... Máscara sem fantasia
Carnaval é jogo, animação...
Carnaval... Alegria é ilusão?
Entrei no bloco que ia passando
Alegria e Carnaval saí cantando...
Ciranda dancei no bloco da Paz!
Alegria e Carnaval... A alma refaz!
Camboriú/SC
04
PÁSSARO RUMO AO INFINITO
Lúcia Silva
Um pássaro voando
Na imensidão do infinito
Entre a folha verde sobrevoando
Com o seu canto bonito.
Entoa louvores ao Criador,
Deus da vida e da verdade,
Que a tudo fez com amor
Para o bem da humanidade.
Oh! Homem sem piedade
Não o impeça de entoar
O canto da liberdade
E de voar faceiro pelo ar.
Permita ao seu coração se converter
Na beleza do seu leve planar
Harmonize seu viver
Com a suavidade do seu cantar.
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